Um Amor de Perdição é um surpreendente bom filme. E digo surpreendente porque tinha duas coisas que não lhe eram favoráveis. Uma adaptação para cinema de um clássico da literatura portuguesa (e todos sabemos como é difícil passar para guião um romance quase intocável, sobretudo se juntarmos a isso uma
actualização do enredo para os dias de hoje) e um
trailer que afugenta qualquer resistente adepto da cinematografia portuguesa. Acontece que desde o início o realizador, Mário Barroso, prende-nos à história. Muito bem filmado (pena a fotografia ser sempre tão pobre, mas enfim, é
normal no cinema português), a história vai-se desenvolvendo a um bom ritmo e tem pormenores muito engraçados, como por exemplo as longas e torridas cartas de amor transformam-se em telefonemas trocados entre Simão e Teresa. Aliás, uma opção inteligente do realizador foi focar a história na revolta de Simão e menos na paixão dos dois, o que afasta os puristas de atacar o filme, pois acaba por ser uma história inspirada em e não uma adaptação de. A grande surpresa do filme são os actores. Tomás Alves é brilhante no papel de Simão, magnificamente acompanhado por Patrícia Franco (no papel de Rita, irmã de Simão), Ana Padrão (Preciosa, mãe de Simão) e Willion Brandão (Zé Xavier, fiel amigo de Simão). Ainda uma nota muito positiva para Ana Moreira, uma Teresa Albuquerque frágil e muito discreta (é incrível o quanto esta miúda é fotogénica).
É talvez o melhor filme de produção nacional que vi nos últimos tempos!
