Não foi tão difícil quanto isso... cheguei bastante cedo à clínica, porque estava em jejum desde as 11h00 da manhã e nem água podia beber... e pensei que quanto mais cedo saísse de casa, melhor, porque beber água é algo irracional... apetece-te, pegas num copo, abres a torneira e lá vai. Fui então um pouco mais cedo do que previsto. Fiz o check in (o que o meu miúdo me gozou por eu ter dito que tinha feito o check in). Tive direito a um quarto para mim sozinho (vivam os seguros de saúde)... confesso que já estive em quartos de hotel bem mais pequenos. Falei com a minha mãe (estava com uma voz tão aflita), com o meu pai (bem tentou disfarçar mas também estava nervoso)... convém dizer que os meus pais estão a 300 km de distância. Perceberam que eu estava na boa e acho que acalmaram. Dei-lhes os contactos da clínica e o número do quarto, para pedirem informações sobre a operação (já que eu ia estar meio drogado e não sabia se ia conseguir falar muito)... e depois falei com o meu miúdo... também ele, com uma voz um pouco ansiosa. Arrumei a minha tralha, sentei-me no sofá e pus-me a ler o meu livro, o 2º volume do 1Q84 do Murakami. O tempo foi passando e perto da hora resolvi preparar-me. Tirei as lentes, pus as cuecas que me deram (daquele material típico de hospital), a bata, as belas das meias e uma touca... e deitei-me na cama à espera... Acabei por adormecer. Quando os enfermeiros entraram com a maca para irmos para a operação já eu estava no segundo sono. A viagem entre o quarto e a sala de operações é meio surreal... La vamos nós deitados, por corredores e elevadores... seria tão mais prático ir a pé. Chega-se a uma ante-sala onde estão os médicos, anestesista e outros enfermeiros, tudo na galhofa "Então, estávamos à sua espera, onde é que andou?" e eu sinceramente com vontade de dormir... mudei de maca... e entrei na sala de operações onde volto a mudar de maca e me tiram a bata... Devia estar lindo, de cueca, meias e touca... conversa para aqui, conversa para ali e "Agora sentir um líquido quente na veia" e apaguei. Quando acordei já estava no recobro... e confesso que essa foi a pior parte... doía-me tudo, mas sobretudo o ombro... e doía mesmo! Ao fim de um bocado deram-me as drogas (através do soro), a dor foi passando e levaram-me para o quarto. Mandei umas mensagens a dizer que estava tudo ok, que tinha corrido bem e que ia dormir... foi a melhor noite dos últimos seis meses... Dormir que nem um anjo (vivam as drogas)! Às 6h30 da matina entra uma senhora Bom dia! Já vez xixi?... Não? Tem que fazer xixi! Please pensei eu, estava a dormir... mas lá fiz o xixi para uma espécie de recipiente de papel... passei o dia a dormitar (para não dizer dormir mesmo)... ia acordando com os telefonemas e as mensagens... mas dormi imenso e foi óptimo. À hora de almoço recebi a visita de duas queridas amigas e do meu miúdo. Fez-me bem vê-los e sobretudo o meu miúdo. Bateu à porta antes de entrar e ficou à espera que o mandassem entrar... é tão dele... e depois entrou com aquele seu ar tímido e sorridente. Apeteceu-me saltar da cama e dar-lhe um beijo. Eles lá foram e eu voltei a dormir... ao fim do dia o meu miúdo voltou e também a minha querida amiga (que já tinha vindo à hora de almoço). Fui dormir... (tenho a sensação que não fiz mais nada) e na manhã seguinte vim para casa (o miúdo foi-me buscar). Foi fácil, rápido e quase indolor... o pior tem sido a fisioterapia, mas isso fica para outro dia.