Na peça Dúvida de John Patrick Shanley (prémio Pulitzer em 2005), um padre (sobre quem recaíam suspeitas de molestar um rapazinho) contava no seu sermão uma história, mais ou menos assim...
Uma mulher estava na má língua com um amigo acerca de um homem que ela mal conhecia e nessa noite ela teve um sonho. Uma enorme mão surgia sobre ela e apontava na sua direcção. De imediato, apoderou-se dela um avassalador sentimento de culpa. No dia seguinte, foi confessar-se.
Foi ter com o velho padre da paróquia e contou-lhe tudo, disse que estava arrependida e pediu perdão.
"Não tão depressa!", respondeu o padre. "Quero que vás para casa, agarres numa almofada, a leves para o telhado, a abras com uma faca e que depois voltes aqui!"
Então ela foi para casa, tirou a almofada da sua cama, tirou uma faca da gaveta, subiu pelas escadas de incêndio até ao telhado e esfaqueou a almofada. De seguida, voltou até junto do velho padre, tal como ele lhe tinha dito.
"Esfaqueaste a almofada com a faca?", perguntou ele.
"Sim, padre."
"E qual foi o resultado?"
"Penas", respondeu ela.
"Penas?" repetiu ele.
"Penas por todo o lado, Padre!"
"Agora , quero que voltes lá e juntes todas as penas que voaram com o vento!"
"Bem", respondeu ela, "isso não é possível. Não sei para onde foram. O vento espalhou-as por todo o lado."
"E isso", disse o padre, " é o boato!".
Lembrei-me desta história a propósito do nosso antigo Primeiro-Ministro, agora encarcerado... Não importa o que eu acho ou não sobre o carácter do senhor, não importa se eu nutro ou não qualquer simpatia pelo visado... mas a forma surreal como tudo isto foi conduzido (independentemente do resultado das investigações) fará com que fique para sempre... A Dúvida.
sábado, novembro 29, 2014
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5 comentários:
Conhecia a história, claro, mas não a tinha associado a este caso.
No entanto, aqui há penas (no sentido da história), impossíveis de localizar, pois voaram...mas também há penas, e bem mais graves, que ficaram presas no telhado e são localizáveis, assim o inquérito da PGR chegue a bom termo, pois investigar-se a si mesmo geralmente resulta em caso arquivado.
Sim João, mas a forma como tudo foi conduzido lançou para a praça pública o próprio julgamento. E rapidamente surgiram as acusações na opinião pública. E essas "penas" voaram, espalharam-se... e ficarão por aí a voar para sempre...
Excelente interpretação da Meryl Streep e do Hoffman no filme que vi. De vez em quando lembro-me dessa história quando me deparo com pessoas muito cuscuvilheiras que não tem noção das consequências dos seus actos.
Restará para sempre a dúvida e a mancha.
É muito isto! O povo queixa-se que a Justiça não é igual para "grandes" e "pequenos", mas não perdem tempo a fazer julgamentos na praça pública contra eles...
Toda esta história do Sócrates tem sido um grande teatro! Que coisa tão boa para desviar atenções...
Muito boa história! Reflecte-se como se vive actualmente neste país.
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