Ainda a ressacar do marasmo cultural que se vive nesta cidade no mês de Agosto, tenho ido ver as novas produções que por aí andam. Depois do
Eléctrico, fui ver o Acácio Nobre, Yes You Me e Hedda. Sobre o Eléctrico já disse tudo o que tinha a dizer...
Acácio Nobre é o resultado da imaginação de Patrícia Portela. Ela já nos habituou às suas propostas muito multimédia, mas neste espectáculo ela quis dar um passo em frente... e deu dois para trás. O espectáculo, ou aquilo que ela pretendia que fosse um espectáculo, tem um conceito muito interessante, uma história saída da sua imaginação que se torna consistente (muita gente sai da sala a perguntar-se se Acácio Nobre terá mesmo existido), mas é só isso. Como instalação numa galeria, seria extraordinário. Entrava-se, percebia-se o conceito e ficaríamos o tempo que quisessemos para percebermos a história de Acácio Nobre. Enquanto espectáculo é uma tortura de duas horas. A instalação sonora de Cristoph de Boeck causa dores de cabeça e náuseas (pelo volume e pela forma como são trabalhadas determinadas frequências de som), o desenho de luz de Daniel Worm D'Assunção é meramente ilustrativo (enfim, remetemos para um ambiente de concerto, que é o ambiente criado pela Patrícia para a apresentação da história) e o espectáculo é isso e os textos a passarem pelo ecrã. Dois textos diferentes (que nos obriga a uma concentração desmesurada, mais uma cronologia nas laterais da plateia e o público ainda leva com umas projecções por cima). Tudo muito engraçado, se não durasse duas horas.
Yes You Me foi outro pontapé. Vi trabalhos da Louise Lecavalier nos anos 90 e ela era uma bailarina extraordinária. Foi com isso na cabeça que fui ver este espectáculo. Hmmm... uma tela branca, desenho em tempo real que vai criando o espaço cénico, alguma confusão entre o que é desenho e o que é o corpo dos intérpretes mas... pouco mais do que isso. É daqueles espectáculos que se sai de lá a pensar "Ah, era só isto?". Há um ou outro momento em que parece que os corpos reagem ao desenho (e não à música) mas... ups, já passou, foi só isto. E se eu não tinha uma opinião muito formada sobre o trabalho do Benoît Lachambre (com quem Louise criou e interpretou este projecto) pois... também não fiquei.
E finalmente ontem fui à estreia de
Hedda. Outro suplício... Primeiro: porque raio se mexe num texto sublime como o de Ibsen para se criar um texto menor, sem interesse, que cria barreiras linguísticas artificiais entre o público e a cena e sobretudo entre os actores e as suas personagens. Eu sei que o texto de José Maria Vieira Mendes é suposto ser "inspirado em" ou "a partir de" mas caramba... onde está a densidade das personagens, a trama, tudo o que leva ao desfecho da peça? Não se constroem textos com boquinhas do género "o algodão não engana"... O cenário de Rita Lopes Alves é péssimo... se queremos um cenário realista então há que fazer por isso e não uma coisa mal amanhada, entre o realista e o não tivemos dinheiro para mais. Os figurinos (também de Rita Lopes Alves) seguem a mesma linha e o desenho de luz de Pedro Domingos é tão pobre que nalguns momentos coloca os actores literalmente na sombra (e não é intencional). A encenação de Jorge Silva Melo é do mais corriqueira que há e direcção de actores não há... Restavam os actores e sobretudo a Maria João Luís... mas, com um textos destes e uma encenação/direcção de actores inexistente, nem a senhora faz um bom trabalho (embora não esteja ao nível da canastrice do António Pedro Cerdeira e da Rita Brütt)... enfim, salvou-se uma Lia Gama, que conseguiu dar o ar da sua graça...
Ou seja, a nova temporada teatral da capital não começou da melhor maneira...