sexta-feira, setembro 10, 2010

Grande Alexandra

Fui ontem à estreia do Eléctrico Chamado Desejo encenado por Diogo Infante. Gostei de tudo! Do social e dos vestidos (Prémio Sim Estou Aqui para Graça Lobo), da peça, da companhia dos amigos e do cocktail no fim da peça (e mais social). Mas o que importou mesmo foi a peça. O cenário da Catarina Amaro é bonito e muito funcional e os figurinos de Maria Gonzaga eficazes e simples. O desenho de luz de Nuno Meira é genial (aliás como são todos os desenhos de luz orquestrados por este rapaz), sobretudo porque quase não o sentimos, a luz está lá mas é tão natural que nos esquecemos que alguém a desenhou. Pequena nota - esta é a mesma equipa que Diogo Infante usou no Cabaret. A encenação é correcta, ritmada e deixa lugar aos actores para brilharem.
Os actores... toda a atenção estava virada para o regresso de Alexandra Lencastre. E ela não decepciona. Que actriz talentosa! Como é possível que tenha estado afastada dos palcos tanto tempo. Dicção perfeita, presença gigantesca. E este é um papel que parece ter sido escrito para ela. Sensual, frágil, com as doses certas de humor e drama. Com a dose certa de loucura. Durante a peça esquecemos que é Alexandra Lencastre e entramos no mundo de Blanche DuBois. Uma enorme surpresa (e muito agradável) foi Lúcia Moniz. No papel de Stella, a irmã de Blanche e mulher de Stanley, Lúcia Moniz consegue evidenciar-se e não se deixar esmagar pela força das outras duas personagens principais. É leve, bonita, simples e ao longo da peça vai-se deixando abater pela loucura da irmã. Mas tudo com uma enorme elegância. Brava! Já o elenco masculino... Albano Jerónimo no papel de Stanley não convence... e não é que ele esteja mal... o rapaz faz um bom trabalho, mas acho que a imagem que temos de Marlon Brando (no filme de E. Kazan) é de tal maneira forte, que é inevitável a comparação... e o facto de nesta peça não terem fugido a essa imagem (aliás, há uma certa colagem) não terá abonado a seu favor. Pedro Laginha no papel de Mitch é... Pedro Laginha. Não percebo o fascínio do encenador por este actor... aliás, não percebo o fascínio de nenhum encenador por este actor, ele faz sempre de Pedro Laginha. Nos secundários uma nota muito positiva para Paula Mora e José Neves (actores residentes do Teatro Nacional).
E depois há Tenesse Williams mas em relação a esse... já nada há a dizer. É genial sempre!

8 comentários:

izzie disse...

Fiquei curiosa....
Adoro a Lúcia e a Paula que me deixam sempre saudades...

Beijinho,

Unknown disse...

já tenho o meu bilhete. Estou desejoso

poor guy fashion victim disse...

Se este trabalho do diogo tiver a mesma qualidade que os dois últimos "cabaret" e "rey edipo", não é mau, é pessimo de mau. penas o dinheirito dos coktails que vieram dos boldos dos contribuintes.

iLoveMyShoes disse...

Não posso concordar. O Édipo não vi (mas ao que sei, a encenação era do Jorge Silva Melo e o Diogo era apenas actor). O Cabaret vi e gostei. Era um musical muito bem feito. Pode-se não concordar com a estética, mas o espectáculo estava muito bem feito. Mas claro, gostos não se discutem... :)

poor guy fashion victim disse...

era pobrezinho, poucochinho e não há nada pior que isso. Em jovem Rei da noruega, foi péssimo. e nem a encenação nem nada se aproveitou. Tretas para tuga!

iLoveMyShoes disse...

Pobrezinho, o Cabaret? Se disseres que não tinha rasgos de enorme criatividade, posso aceitar. Agora pobrezinho... Era um espectáculo muito bem produzido.

poor guy fashion victim disse...

E que maior probreza existe que a falta de criatividade? Nem achei especialmente bem produzido, apesar dos meios pouco anormais que foram colocados à disposição. O espectáculo não tinha nada, era uma versão asséptica e tonta do filme e pronto e nem o "espirito cabaret" lá estava. aliás caracteristíca do Diogo, que ás vezes é bom actor, mas que tem esta particularidade tão tuga, de "com um simples vestido preto eu não me compromento". O filme é mais antigo e consegue ser infinitamente mais contemporâneo na forma como aborda por exemplo a homossexualidade.

O Rei Édipo alinhou pelo diapasão que tem alinhado a qualidade de tudo o que tem havido pelo Mausoleu, nos últimos anos. Mau de mais, que até confrange. Aliás já desisti de ver seja que espectaculo for em Portugal chamem-me snob, se quiserem. Apenas tenho pena de contribuir com os meus impostos para fazer tanta porcaria.

iLoveMyShoes disse...

Eu não disse que havia falta de craitividade, mas que não havia enormes rasgos de criatividade. Quanto à comparação com o filme, bem, não é muito justo, porque a peça segue o libreto original e o filme é uma adaptação. Dir-me-ás porque não fez ele uma adaptação também... não sei, mas talvez não tivesse tido autorização para isso.
As letras das músicas estavam bem traduzidas e adaptadas à fonética portuguesa, a interpretação da Ana Lúcia Palminha era muito boa (não esquecer que no original a Sally é uma cantora de segunda num cabaret de terceira, pelo que a opção de uma actriz que canta foi certeira, em vez de uma cantora que representa), a banda ao vivo era também muito boa, as coreografias não eram geniais (ok ok, concordo) mas os bailarinos eram brilhantes (4 deles ex-bailarinos da Gulbenkian), os figurinos cumpriam e o cenário era despojado mas funcional, a maioria dos intérpretes fez um excelente trabalho (recordo com particular carinho a Isabel Ruth).
Ou seja, continuo na minha... era um bom espectáculo. E eu vejo muitos espectáculos no estrangeiro e estes (tanto o Cabaret como o Electrico) são tão bons quanto um qualquer que se apresente no West End ou na Broadway. Mas... e a minha opinião e vale o que vale...